quinta-feira, 12 de abril de 2012

O desejo de uma dança

Sábado à noite. Muitos se arrumando para sair e curtir as mais diversas baladas da vida noturna de São Paulo. Eduardo estava inquieto, necessitava sair. Mas nenhum de seus amigos pareciam dispostos a sair àquela noite. Decidiu ir sozinho então ao Aeroflith. O lugar era legal e poderia encontrar algum conhecido por lá. Ou quem sabe até mesmo fazer alguns novos amigos.
Chegando à casa noturna, tratou logo de correr para o piso superior. Onde ficava a pista de dança. Tudo que ele queria era dançar aquela noite. Porém ao chegar à pista, notou que as pessoas faziam uma roda e quase em transe observavam alguém que dançava dentro da roda. Eduardo com dificuldade começou a ultrapassar as pessoas para ficar mais próximo e ver o que de fato ocorria. Quando conseguiu abrir caminho e chegar viu o que chamava a atenção de todos. No meio daquela roda havia uma mulher dançando. Dançava de forma sublime e harmoniosa. Movimentos em sincronia perfeita. Ao som da música do the smiths. Ela vestia um vestido vermelho. Em cima estilo corpete trançado em barbatanas. A parte de baixo uma saia mais solta, com pontas em renda preta de tule. Por cima do vestido um bolero preto, com as mangas de pontas também em tule. Em seu pescoço uma gargantilha preta com pequenos detalhes em vermelho. Vestia-se como uma verdadeira deusa. Sua roupa, seus movimentos hipnotizavam todos ali.
Eduardo sentiu um imenso desejo de dançar com aquela dama de vermelho, tão bela. Tão atraente. Tão senhora de si. Mas claro não era louco de se aproximar, ainda mais com tantas pessoas em volta também a observando. A desejando. Ele ficou ali apenas apreciando-a dançar. Quanto tempo ficou assim, não sabia dizer. Só conseguiu sair do lugar, quando percebeu que ela suavemente parava os movimentos e terminava sua dança. E não só ele, mas todos pareciam dissipar da hipnose em que se encontraram.
Ela caminhou saindo da pista e indo ao piso de baixo, onde tinha o bar e alguns sofás e pufes para que os convidados da casa pudessem descansar. Sentou-se em um desses sofás e ficou observando as pessoas ao redor. Até que viu Eduardo em um canto próximo a olhando. Olhou para ele e sorriu. Eduardo sentiu um calafrio percorrer a espinha do seu corpo. Era um sorriso quase inumano. Resolveu aproximar-se dela:
-Olá, sou Eduardo
- Agatha!
Única palavra dita por ela. Nem um sorriso convidativo. Nem uma conversa formal. Ele se achou um idiota. Como poderia ter achado que uma mulher como aquela daria confiança á ele. Em devaneios, estremeceu, quando novamente ouviu o som daquela dama:
- Venha.
A seguiu sem questionar. Desceram as escadas do lugar, e começaram a caminhar em silêncio pela rua. Até que Agatha parou em um casarão velho, que mais parecia abandonado e disse:
- Vamos entrar.
- È sua casa?
- Não.
- Invadiremos a casa?
- Sim
- Mas...
- Não gosto de covardes.
Agatha pulou o muro e entrou. Como uma gata. Não parecia estar de salto e com aquele vestido. Eduardo se sentiu envergonhado e humilhado sendo chamado de covarde por uma completa desconhecida. Mas seu desejo por ela era maior do que qualquer coisa. E assim, como um fantoche, pulou o muro atrás dela.
Adentraram a casa, que estava empoeirada, cheia de teias de aranha e parecia muito velha. Com uma estrutura frágil e antiga. Dentro de um pequeno cômodo havia uma cadeira e estranhamente uma corda pendurada em forma de forca amarrada nos estrados do teto.
-Sinistro.
- O que disse?
- Sinistro...
Agatha gargalhou e seus olhos brilharam de tal forma que Eduardo sentiu pavor.
- Linguajar engraçado o seu.
Eduardo enrubesceu. Mas logo já estava atônito novamente. Agatha havia subido em cima da cadeira e pendurado a corda no próprio pescoço.
- O que está fazendo?
-Vou dançar para você. Esse não é o seu desejo?
- Desce daí, você pode se machucar.
- Já disse que não gosto de covardes. Cale á boca e aprecie.
Ela dançava sensualmente. Mesmo sem nenhuma música. Eduardo embora excitado com a dança temia que ela perdesse o equilíbrio e caísse da cadeira, ficando apenas pendurada pela corda. Foi com grande alivio que após alguns minutos que pareceram uma eternidade, ela desceu da cadeira. Mal teve tempo de respirar de conforto por ter acabado a maluquice quando gritou. Nem notara que Agatha se aproximara dele, apenas sentiu a mordida em seu pescoço.
- Ai.
- Que foi donzelinha o machuquei?
- Não!
Agatha ria sem parar, como uma maluca.
- Suba na cadeira Eduardo. Dance para mim. Ah não se esqueça de colocar a corda em seu pescoço.
- Não vou fazer isso
- Claro que vai!
Eduardo então sentiu medo, mas resolveu obedecer aquela maluca. Subiu na cadeira. Porém o medo o paralisou ali. Não conseguia dançar, pegar a corda e por em seu próprio pescoço. Ela então se juntou a ele, subindo na cadeira. E o ajudou gentilmente a por a corda na cadeira. E o beijou. Um beijo intenso e sensual. Eduardo já se esquecia de como se encontrava, e entregava-se completamente aquela estranha. Foi então que ela parou o beijo e cravou seus dentes no pescoço dele. Com tal intensidade. Mas ele estava tão anestesiado pelo beijo que não percebeu o que acontecia. não percebeu que cada gota de seu sangue era sugado lentamente o levando para o abismo da morte. Foi apenas enfraquecendo e quando suas pernas falharam, caiu da cadeira. Ficando apenas pendurando pela corda no pescoço.
Agatha desceu da cadeira, olhou aquele corpo morto, sorriu. E saiu da casa.


Um comentário:

  1. sedução mortal..simboliza bem o desejo e dono de sua alma parabéns muito bom..

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