terça-feira, 17 de abril de 2012

A última sexta por Camila Bernardini



A noite estava fria, uma sexta-feira quase comum, se não fosse o fim de ano que se aproximava e os alunos da escola Espírito Santos não estivessem mais frequentando tanto as aulas. O que deixavam as salas quase vazias, com poucos alunos e professores mal humorados querendo que o expediente acabasse logo para dispensarem os alunos e irem embora. Foi assim que o professor Elias propôs a diretoria que deixassem os alunos saírem mais cedo. Afinal era sexta-feira mesmo, e não havia mais matérias e conteúdos a serem dados. O diretor aceitou e assim todos os alunos puderam ir embora após o intervalo.
Estela e Bianca estavam entediadas, e decidiram não voltar para casa, indo procurar os amigos que não haviam ido para escola e ver o que eles estão fazendo por ai. Se é que estavam fazendo alguma coisa. Foi quando Estela recebeu uma mensagem no seu celular do seu amigo Wesley: “Oi linda, estou com a galera aqui no cemitério. Temos vinho, e trouxemos violão”.
- Vamos ao cemitério Bia.
- Sozinhas?
- Não, o Wesley esta lá com a galera.
- Demorou!
As duas seguiram rumo ao cemitério, indo para a rua de trás do Santo Antônio, onde o portão ficava semiaberto, e era sempre muito fácil de entrar. Já que esse cemitério não tinha guardas, câmeras. Nada que pudessem impedir a entrada de estranhos tarde da noite. Quando as duas passaram pelo portão e olharam aqueles corredores sombrios. Com túmulos quebrados, descuidados um leve arrepio percorreu-lhes o corpo. Não tinha como evitar esse pequeno medo que se instalava. Aquele lugar tinha uma energia espiritual muito forte e às vezes parecia um pouco ruim.
- Vamos encontrar logo o pessoal, não gosto de ficar aqui parada sozinha.
- Nem eu Bia, sempre sinto a sensação de que tem alguém aqui nos observando. Credo.
As meninas se entreolharam, sorriram um pouco para descontrair aquele clima de medo bobo. Afinal não era a primeira vez que iam ao cemitério ao anoitecer. Começaram a caminhar lentamente, observando se viam seus amigos, ou escutavam algum barulho que identificasse em que parte eles se encontravam. Foram então que viram dois vultos subindo em um dos corredores próximos a elas. Muito parecido com seus amigos. Elas então começaram a gritar os chamando. Mas não obtiveram respostas:
- Esses meninos estão surdos? Vamos ter que alcança-los.
Estela e Bia aumentaram os passos e começaram a seguir caminho rumo ao corredor onde avistaram os vultos. Já estavam distantes do portão de saída e nada de encontrá-los. Nem vulto, nem voz. Nada. Apenas a escuridão sombria da noite, túmulos, árvores assustadoras e sombras que pareciam outras coisas. Bia já estava preocupada, não gostava de ficar sozinha naquele lugar. Não que acreditassem em fantasmas, ou coisas assim. Mas pelo portão ficar sempre aberto. Assim como ela e os amigos, outras pessoas poderiam entrar no local.
- Estela liga no celular do Wesley e pergunta onde eles estão.
- Esta bem.
Estela pegou seu celular, e notou que a bateria estava fraca. Rezou para que desse tempo de ligar ao amigo e saber onde ele estava afinal. Discou o número e após alguns toques uma voz sonolenta de quem acabara de acordar atendeu:
- Estelinha, oi!
- Wesley, cadê você?
- Na minha cama, dormindo. Por quê?
Antes que a menina pudesse responder qualquer coisa, a ligação caiu. A bateria havia descarregado totalmente. Ela olhou para Bia assustada e gritou:
- Vamos embora daqui, agora!
- O que foi?
Estela não a respondeu. Apenas segurou seu braço com força e começou a correr, fazendo assim com que a amiga corresse também. Em quanto corriam, não notaram que os vultos se aproximavam delas. Bia estava com um colar e um pingente de crucifixo em seu pescoço, quando sentiu que algo o puxava. Parou de correr para olhar o que acontecia e seu colar arrebentou. Não havia nada em que ele poderia ter se enroscado. Nada. Foi como se alguém o tivesse realmente puxado. Congelou de medo!
- Que, que foi isso?
- Bia não sei o que foi isso, não pare de correr. Vamos embora.
Duas gargalhadas quase ensurdecedoras tomaram conta dos vazios dos corredores. As duas olharam na direção de que vieram e lá estavam dois vultos as observando. Não dava para verem as feições, e, aliás, nem queriam. Voltaram a correr como loucas. Quando chegaram próximas ao portão olharam para trás e novamente não havia nada. Estavam com medo e não queriam mais ficar ali, atravessaram o portão e correram pela rua até estarem bem distantes daquele lugar.
Pararam em uma praça próxima ao colégio onde estudavam. As duas tremiam, nunca sentiram tanto medo. Mas sabiam que agora estavam seguras. E que nada de mal aconteceria. Foi então que novamente ouviram gargalhadas, que fizeram as duas pularem assustadas. Olharam e os vultos estavam lá, zombando delas. Rindo. As duas se abraçaram e fecharam os olhos. Não importa o que acontecesse, ficariam juntos até o fim. Por toda a eternidade.·.

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