quinta-feira, 26 de abril de 2012

A lança do destino cap. 3 e 4 por Camila Bernardini

                Quando novamente a noite caiu, os olhos de Cassius se abriram. Estava em um estábulo.  Levou alguns minutos para lembrar-se da noite anterior. Várias sensações de apoderaram dele. No que tinha se tornado, questionava a si mesmo.
            - Em um vampiro.
            Olhou para a ruiva que estava a um canto acariciando um cavalo preto. A mesma que tinha o salvado na noite anterior.
            - Quem é você?
            - Meu nome é Sarah!
            - Como sabe o que eu sou?
            - Não é a primeira vez que meu povoado é atacado por um da sua espécie.
            - Se sabe mesmo quem eu sou porque não me matou em quanto eu dormia? Acasos não têm medo?
            - Eu o mataria se pudesse.
            - Como assim? Se pudesse?
            - Tenho visões e não posso interferir no seu destino, você tem que cumpri-lo
            - Visões! Você é uma herege! Sua bruxa!
            - Sou tão herege quanto você!  Já que não quer minha ajuda vou embora.
            Sarah virou as costas para o vampiro. Ele com raiva pela a atitude dela, a puxou pelo braço quase a derrubando ao chão. Ela o fitou com desprezo e disse:
            - Se quer minha ajuda terá que ser educado.
            - Ou você me ajuda ou morre! Não tem escolha.
            - E se eu morrer, qual seria a sua escolha?
            Cassius sentiu uma onda de raiva apoderar-se dele. Como ele um soldado poderia ficar nas mãos de uma mulher. Uma feiticeira ainda por cima. Mas naquele momento achou melhor concordar com ela, pois não sabia o que de fato estava acontecendo e precisava de ajuda.
            - Tudo bem, me desculpe pela minha forma rude.
            - Desculpas aceitas.
            - Me conte sobre suas visões.
            - Quando você foi banhado com o sangue de Jesus, foi amaldiçoado. Essa maldição será somente quebrada quando encontrar a lança que usou para feri-lo e destruí-la.
            - Então tenho que voltar onde Jesus foi crucificado.
            - As coisas não são tão fáceis assim, já se passaram dez anos.
            - Como assim dez anos?
            - Dizem que quando você atingiu Jesus, foi para sua casa. E depois de três dias em que ninguém o encontrou foram atrás de você e o encontraram morto.  E já se passaram dez anos desde que isso ocorreu.
            - Isso explica por que achei que tinha sido enterrado vivo.
            Sarah não conteve um riso.
            - Não sei por que Cassius, o fato é que você adormeceu dez anos.
            - Como sabe meu nome?
            - Já disse tenho visões associei minhas visões à história e ao seu nome. O que vi é que você tem que achar a lança.
            - Onde vou encontrá-la?
            - Muitos homens a cobiçaram, o que sei é que esta nas mãos dos romanos. Mas não vejo sua localização.
            Cassius suspirou. Seria uma longa jornada. Mas precisava quebrar a maldição. Não queria ser para sempre excomungado do céu. Em seus devaneios e temores foi desperto:
            - Vou com você, te ajudarei a seguir sua jornada.
            Ele olhou para talvez sua nova aliada, e se perguntou se essa seria uma boa aliança. E o que aquela mulher ganharia em ajudá-lo.

Cap4
            Aos poucos Sarah foi o atualizando de tudo que havia acontecido no tempo em que permaneceu adormecido. Ele ficou abismado que o mesmo dia em que seu corpo foi encontrado e dado como morto foi o dia em que Jesus ressuscitou. Ou pelo menos era o que as pessoas diziam. Ela também lhe contou que os apóstolos tocaram o corpo de Jesus e disseram que era mesmo de carne e osso. Convencidos assim, em levar os ensinamentos que aprenderam com ele a outras pessoas.
            - Mas e quanto à lança Sarah?
            -O que sei é o que os rumores dizem a respeito. A lança ficou com os romanos e muitos acreditam que ela é dotada de poderes mágicos.
            Cassius estava aflito com a falta de informação sobre o artefato que se não salvasse sua vida, talvez salvasse sua alma.
            Olhou para Sarah e notou que os olhos dela estavam vidrados, gostas se suor escorriam de seu rosto. Ele a chamou por diversas vezes, como ela não respondia começou a sacudi-la.
            Assustou-se quando um forte estrondo derrubou a porta do estábulo. Os poucos cavalos que ali estavam relincharam assustados. Olhou para fora e viu uma aglomeração com cerca de dez pessoas co tochas acesas.
            - Só essa que me faltava.
            - È ele, é ele que tentou profanar minha casa ontem. Só pode ter sido ele que matou Maria e veja a bruxa esta com ele.
            A pequena multidão agitava, gritava muitas coisas sem sentido. Cassius apenas entendia que queriam matá-lo. Olhou novamente para Sarah e notou que ela saia do seu transe. Em um ímpeto a pegou, tentando fazer-lhe de refém:
            - Se vocês se aproximarem eu a mato.
            A mulher gorda que parecia liderar aqueles lunáticos e a mesma que não o tinha deixado entrar em sua casa na noite anterior disse:
            - E acha que nos importamos com a bruxa?
            As pessoas gargalharam prontas para invadir o estábulo e acabar com a vida daquele que julgavam serem dois monstros.
            - Os cavalos Cassius!
            - O que?
            - Use os cavalos.
            Cassius não entendeu o que Sarah queria dizer. Estava aflito para sair dali. As pessoas começavam a entrar ali quando uma voz novamente invadiu seus pensamentos “Os animais os obedecem, use-os”.
            O vampiro olhou para os cavalos que relinchavam cada vez mais alto. Seu olhar fez com que os animais se acalmassem. Cassius sentiu u novo poder apoderar-se dele, uma forte energia comandava o seu corpo e tudo ao redor.  Sabia que os animais estavam em transe prontos para obedecerem seus comandos.  Sem pronunciar palavras mentalizou o que queria. Os animais saíram em disparada em direção às pessoas, derrubando algumas no chão, em quanto outras corriam para tentar se proteger e não se ferirem.
            No meio da confusão, não notaram que apenas um cavalo continuava parado. O cavalo preto. Cassius e Sarah montaram nele. Aos poucos os cavalos voltaram a se acalmar e pararam com a confusão. Mas já era tarde o vampiro e sua aliada já haviam fugido dali.

A lança do destino Cap 1 e 2 por Camila Bernardini




Um soldado tomou uma lança e furou-lhe o lado, e saiu sangue e água. Novamente Jesus clamou com alta voz e entregou seu fôlego. E eis que a cortina do Santuário rasgou-se em dois, do alto a baixo, e a terra tremeu, e as rochas se fenderam"

A multidão de pessoas não dispersava. Continuavam ali, com os olhos fixos na cruz em que Jesus estava pregado. Muitos curiosos, esperando que algum milagre acontecesse. Já não bastasse toda dor, humilhação e sofrimento que aquele homem passava, um impiedoso centurião romano abriu espaço entre as pessoas conseguindo ficar bem ao lado da cruz. Seu nome era Cassius. E sem nenhuma piedade ele cravou sua lança em Jesus. O sangue e a água que reverteram do ferimento espirraram em seus olhos e sua face. O guarda se limpou e notou que sua visão que estava antes um pouco embaçada,no qual até sentia medo de perder seu posto, havia voltado ao normal.
            Cassius espantado com sua nova visão sentiu uma ponta de remorso invadir-lhe o peito. Meio tonto com a multidão que agora o cercava, deu um jeito de escapar dali e ir se recolher na sua casa. A lança foi deixada para trás, e logo alguns soldados a recolheram acreditando que aquele artefato era dotado de poderes mágicos.
            Aquela noite já em sua casa ele não conseguia dormir. Sempre que fechava os olhos tinha visões que pareciam vir do próprio inferno. Com fome e cansado de tentar dormir ele foi até a sua cozinha se deliciar com a farta comida. Para sua surpresa após a refeição, uma ânsia repentina o fez vomitar e ficar novamente de estômago vazio. E o pior é que ele ainda sentia fome, mas quanto mais tentava comer mais mal ia se sentindo. Seu corpo estava fraco e mais uma vez deitou para tentar dormir. Adormeceu quando os primeiros raios de sol apareciam para iluminar mais um dia.
            Três dias se passaram e como ninguém tinha noticia de Cassius, alguns soldados da guarda do templo foram procurar por ele em sua casa. Como ele não respondia as batidas, invadiram a casa e ficaram espantados quando encontraram o corpo dele. A pele estava fria e pálida, denunciando sua morte. O curioso é que ninguém soube dizer o que ocasionará a morte dele. O corpo foi enterrado as escondidas para abafar o estranho caso. Já que muitos ainda comentavam sobre a lança que havia ferido Jesus e eles não queriam dar mais popularidade ao caso.
            Os anos foram passando e a lança sendo cobiçada por muitos que a desejam, acreditando que aquele que se apoderasse dela tornar-se-ia o senhor do mundo, dotado dos maiores poderes. Apenas lembravam-se dela e não do soldado que a teve como porte.

Cap. 2
            Dez anos haviam se passado. A vida seguia seu curso normal. Cassius abriu os olhos, e um pequeno tremor percorreu seu corpo. Notou que estava escuro, muito escuro. Sentiu um profundo terror, por instantes acreditou estar cego novamente. Foi então que aos poucos sua visão foi se acostumando com a escuridão. Ao tentar movimentar-se sentiu que estava preso. Apalpou suas mãos para cima e notou que também estava sem saída por ali. O que seria aquilo? Sentia sede, uma sede insaciável. Em pânico começou a bater no caixão e foi ai que se deu conta que havia sido enterrado-vivo. E quando golpeou novamente para tentar se livrar que descobriu sua nova força. Descomunal até para um humano. Mas ele sabia que em momentos de desespero muitos dobravam sua força. E foi então que comum golpe a tampa voou para longe. Terra então caiu sobre ele.
            Quando finalmente conseguiu se libertar de toda aquela terra e levantar-se notou que era noite. E que seus sentidos estavam aguçados. Podia ver com mais nitidez, escutar sons distantes e sentir perfumes carregados pelo vento. Olhou a sua volta e notou que estava em um pequeno campo, logo mais a frente havia um vilarejo. Decidiu caminhar até para pedir comida e abrigo para passar a noite. Quando a luz do dia surgisse tentaria descobrir o que estava acontecendo.
            Cassius chegou ao vilarejo, bateu a porta de uma das casas e logo foi atendido por uma mulher baixa e gorda. A mulher assim que pousou os olhos nele fez o sinal da cruz e seu rosto adquiriu uma expressão de espanto e palidez de quem havia acabado de ver um fantasma. Correu para tentar fechar a porta mais o soldado a impediu:
            - Senhora sei que meu estado é lastimável. Mas preciso de comida.
            A mulher ficou ainda mais apavorada ao ouvir que ele queria comida. Cassius já irritado com a reação dela, com fome, tentou entrar na casa mesmo sem ser convidado. Afinal era um soldado romano e não poderiam negar comida a ele. Ao tentar entrar, porém, uma dor pontiaguda se apoderou do seu corpo e uma voz estranha dizia na sua mente que não podia profanar a casa dos outros. Achou que estivesse tendo alucinações devido à fome. Cambaleou para trás e foi a oportunidade perfeita para a mulher fechar a porta. Olhou furioso para a porta fecha e decidiu partir em busca de outro lugar para se alimentar.
            Em quanto caminhava meio zonzo pelas ruas, olhou para o céu e notou que logo amanheceria. Não sabia por que mas algo o fez sentir um terrível medo. Não podia ficar exposto ao sol. Pensou estar maluco, mas era melhor seguir seus instintos e se esconder. Mas a fome ainda estava o perturbando, o deixando quase louco. Foi então que uma forte brisa trouxe consigo um cheiro doce que logo invadiu suas narinas o despertando para algo, que não sabia identificar o que era. Seguiu em passos rápidos em direção ao cheiro e encontrou apenas uma mulher ferida, sangrando. Seus olhos fixaram no sangue e ficou em êxtase. Sim era aquilo que queria. Imagens vieram atordoar sua mente... Cruz, espadas, lanças, Jesus...
            Os devaneios pararam e ele lentamente se aproximou da mulher. Ela por sua vez começou a tremer, fechou os olhos e juntou as mãos em uma prece. Cassius lambeu o ferimento e o gosto do sangue percorreu-lhe a boca, o corpo e o atirou a um desejo incontrolável. Ele sem pensar em mais nada, perfurou o jugular dela e se banhou ao sangue, se deleitando a cada gota de sangue. Aos poucos foi sentido nova vitalidade. O prazer daquilo lhe dava vida, o deixava forte e a fome saciada. Logo a mulher ferida caiu tombada morta ao chão.
            O dia começava a despertar e o soldado sentiu sua pele arder como se tivesse pegando fogo. Foi quando de dentro de um estábulo uma voz feminina gritou:
            - Entre agora
            Cassius correu entrando no estábulo escuro e se sentiu confortado. Olhou a mulher a sua frente, ela era linda. Cabelos ruivos, encaracolados, olhos verdes, a pele alva, seios fartos. Mas antes que ele pudesse perguntar quem era ela o sono o dominou e adormeceu.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Caixinha de surpresa por Camila Bernardini

A companhia do pequeno apartamento de Bruna tocou. Ela olhou para o relógio e achou muito estranho alguém estar tocando àquela hora da noite. Morava sozinha e não esperava visitas. Ficou indecisa quanto a abrir a porta, mas como a companhia não parava de tocar resolveu atender e mandar quem quer que fosse embora. Para a sua surpresa quando abriu a porta não havia ninguém. Bufou de raiva. Quem seria o idiota fazendo brincadeiras daquele tipo. Já ia fechar a porta quanto notou uma pequena caixinha roxa deixada no tapete da entrada de sua porta. Pegou a caixa e entrou.
Ficou curiosa para saber o conteúdo da caixa e foi logo abrindo para saber o que tinha dentro. Quando viu o que tinha dentro deu um grito apavorado e jogou tudo pelo ar. Suas pernas tremiam com o susto que havia levado. Caiu sentada no sofá e desviou os olhos para onde aquilo tinha caído. Foi então que notou um envelope dourado no chão, provavelmente deveria ter caído de dentro da caixa quando ela jogou. Pegou o envelope com as mãos trêmulas e abriu, dentro continha um bilhete com letras recortadas de revista: “Se ainda quiser ver seu amado Eduardo vivo me encontre daqui uma hora na catedral da Sé”.
Bruna tremia tanto, que levou um tempo até se recompor. Com cuidado colocou o envelope de volta na caixa. E olhou para o chão, ainda com um pouco de receio pegou o dedo cortado que tinha vindo dentro da caixa e agora estava caído no seu chão. Só então notando que o dedo cortado estava com a aliança que ganhara do namorado para selar o noivado deles na semana anterior. Não sabia se isso era coincidência, ou se tinha algo haver com o que acontecia agora. Apressada saiu quase correndo do seu apartamento para encontrar quem quer que fosse o louco que estava por trás disso.
Chegou à frente da Catedral e notou que as portas estavam abertas. Mas um indicio estranho para aquela noite, já que pelo horário a igreja deveria estar fechada há muito tempo. Sem pensar em mais nada, correu até as portas e entrou. O lugar estava vazio e silencioso. Apenas algumas velas iluminavam a igreja. Fez o sinal da cruz e começou a percorrer os corredores lentamente. O coração disparado, olhos atentos para qualquer sinal ou barulho que pudesse dar uma pista do que de fato estava acontecendo. Foi quando notou que em um dos bancos havia outra caixinha roxa. Idêntica a que tinha encontrado na sua porta. O medo de abrir por um instante tomou conta dela, mas sabia que era a única que podia salvar o namorado. Respirou fundo e abriu a caixa. Mas um dedo e um envelope dourado. Dentro do envelope mais um bilhete: “Desça a cripta”. Ela seguiu as instruções e se encaminhou a cripta que estava um breu só. Tudo era silêncio, não fosse a respiração entrecortada que vinha do escuro.
- Eduardo? – Bruna chamou.
- Fuja daqui amor, fuja! – Eduardo gritou em desespero. Não conseguia enxergar sua amada, mas sabia que ela tinha que fugir dali antes que fosse tarde de mais. Antes que aquela... Não, não poderia denominar aquilo de mulher... antes que aquele monstro voltasse.
- Não vou embora sem você.
Bruna andava com dificuldade pelo escuro tentando localizar o namorado. Seguindo a voz dele desesperada pedindo que ela fugisse. Foi quando luzes acenderam e palmas fizeram eco por todo o local.
-Ora, ora... Meus pombinhos apaixonados!
Bruna nem precisou olhar para reconhecer a voz. E por um momento sentiu um fio de esperança. Sabia os argumentos exatos para usar e conseguir escapar dali com vida junto ao namorado. Falou sem olhar na direção da voz:
- Solte o Eduardo. Deixe-nos em paz. Sei que você ainda o ama e não vai machucá-lo mais.
O que ouviu em resposta foi apenas uma gargalhada sinistra.
- Não é mais a Amanda. È um monstro Bruna- Eduardo gritava.
Ela então olhou na direção da voz do seu namorado e o viu no canto de uma parede amarrado. Uma pequena poça de sangue ao redor. E uma das mãos com dois dedos cortados. Correu até ele e tentou soltá-lo das cordas. Foi então que sentiu que a Amanda a puxava pelos cabelos, obrigando a fitá-la. Sentiu uma dor terrível no pescoço devido à posição em que ficou. Bruna congelou de medo ao fitar o rosto da mulher que a machucava. Os olhos dela estavam simplesmente de um vermelho tão vivo que pareciam mais duas labaredas queimando no fogo do inferno. Um arrepio intenso e ânsia de vomito percorreram o corpo de Bruna, quando Amanda lambeu seu pescoço e orelha. E foi a última coisa que sentiu e viu antes da dor intensa no pescoço e de cair sem vida no chão.
- Nãoooooooo – Eduardo gritou
- Tarde de mais – ria a vampira.
- Me mate também.
- Para que te matar? Se deixá-lo viver por toda a eternidade lembrando-se da morte de sua amada será mais divertido.
- não!
- Você não tem escolha
Amanda o mordeu, o suficiente para deixá-lo vivo e o fez beber do seu sangue. Deixaria agora que a transformação dele em vampiro terminasse sua vingança. Levantou, deu uma última olhada em Eduardo que agora se contorcia em dor e foi embora da cripta. O deixando tombado ao chão.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Morgana por Camila Bernardini



Vanessa estava sentada na janela do seu quarto, observando as folhas das árvores, que lentamente balançavam seguindo o ritmo do vento. Olhou para as nuvens no céu, estavam escuras e pesadas. Logo choveria. O dia estava quase que perfeito, não sentia vontade de fazer nada, queria passar o dia todo assim, naquela janela. O seu celular tocou, pelo toque já sabia ser Carlos, sorriu, adorava escutar a voz dele, principalmente logo pela manhã.Falou pouco no telefone, o bastante para deixá-la irritada. Não irritada com Carlos, mas com Morgana, uma mulher misteriosa, que ninguém sabia realmente sua identidade, a única coisa que sabiam dela era que tinha do nada, sentido uma súbita paixão a Carlos, prometendo a ele as loucuras mais ousadas. O que a irritou mais ainda, foi saber que ela disse que a única mulher que servia para ele, era ela mesma.Intrigada sobre essa mulher, Vanessa tentava de todas as formas descobrir o que ela realmente queria, sem, contudo conseguir respostas que não fossem de todo superficiais. Já tinha até procurando uma detive que pesquisou o que pode de Morgana, mas nada verdadeiramente útil.Escutou seu celular tocando, novamente era Carlos



- Tenho uma novidade?



- Qual?



- Vou me encontrar com Morgana, finalmente saberei quem ela é.



- Você me parece muito empolgado, para quem disse não estar interessado.



- Só quero descobrir a identidade dela, não precisa ficar com ciúmes.



- ...tá!



- Vou encontrá-la hoje, naquele apartamento perto do Vila Lobbos.



- Divirta-se!



Vanessa, em um ataque de fúria desligou o telefone na cara dele. Homens, ele poderia até sim amá-la, mas não resistiria aos encantos daquela mulher, que nem tinha coragem suficiente de dizer quem era realmente. Talvez fosse feia! Riu de si mesma, com seus pensamentos infantis de ciúmes, afinal não era assim.



Carlos chegou a seu apartamento, às dez da noite. Estava com uma grande expectativa sobre o que aconteceria naquela noite. Afinal, pelo pouco que teclará pela internet com Morgana, ela parecia ser uma mulher cheia de encantos e com certeza sabia agradar um homem na cama.A campahia tocou, seu coração disparou. Só podia ser ela, que tinha chegado. Abriu a porta, e se espantou com tamanha beleza da mulher a sua frente. Sua pele era alva, branquinha como a neve, lábios carnudos e vermelhos, olhos de um tom azul que pareciam lentes. Seus cabelos negros, compridos desciam por toda sua cintura. Ela estava vestida com uma mini saia preta de couro, que deixavam a mostra suas pernas bem torneadas, fazendo com que aumentasse seu desejo por ela, usava um corpete vermelho, bem coladinho ao corpo, que mostrava muito bem suas curvas e seus seios bem fartos.



- Então vai me convidar a entrar ou não?



- Me desculpa, entre.



Carlos respondeu meio sem graça, ficou tempos a admirando na porta, quase que hipnotizado, que se esqueceu de convidá-la.Morgana sorriu ao escutar o convite e entrou mesmo seu salto sendo agulha não fez barulho no piso de madeira, era como se com sua leveza flutuasse, e não caminhasse como o resto dos mortais. Nem poderia como uma beleza tão exótica como aquela poderia ser comparada com um ser qualquer.



-Sinta- se em casa minha ninfa.



Ela apenas jogou um olhar para Carlos, foi até a estante da sala onde estavam os CDs. Pegou um do Eric Clapton, e colocou no aparelho, escolhendo a faixa doze cocaine! Começou a dançar insinuando-se para Carlos, e aos poucos tirando sua roupa. Ele assistia tudo, sem nem sequer conseguir desviar o olhar. Sabia que tinha prometido a Vanessa, não traí-la, mas a tentação era forte.Morgana então se aproximou de Carlos, o beijando, um beijo quente e prometedor, enquanto suas mãos escorregavam por entre as pernas dele. Ele a pegou no colo estranhou por um momento sua pele fria, mas o desejo continuava forte, e a levou para seu quarto, a deixando deitada em sua cama. Ela o puxou para si com muita força, beijando levemente seu pescoço. Carlos estremecia a cada toque. Quem seria aquela mulher que o estava deixando louco? Foi então que sentiu leves mordidos em seu pescoço, e uma dor pequena vindo de onde ela o mordera, passou a mão em seu pescoço, viu que algo escorria dali. Levou a mão onde pudesse ver sangue! Assustou-se, tentou levantar da cama.



- Tarde de mais, meu Lord!



Morgana o derrubou, para que ficasse deitado na cama, e subiu em cima do seu corpo, prendendo as mãos dele para cima, assim não teria movimento, enquanto ela sugava seu sangue. Mesmo a beira da morte, Carlos não entendia como podia sentir tanto prazer, ao ponto de gozar. Ela sorveu a última gota de sangue, o deixando morto na cama. Sorriu, homens sempre eram presas fáceis de mais.



Vanessa sabia que não conseguiria passar a noite em sua casa, pertubada e com medo que por outra maldita mulher, Carlos a largasse. Nunca fora insegura desse jeito, não sabia o que estava realmente acontecendo, mas mesmo achando errado decidiu de que iria atrás dele no apartamento. Afinal, ela também tinha curiosidade em saber quem era Morgana. Pegou suas chaves e saiu.Chegando ao apartamento, o porteiro que já a conhecia, deixou-a subir normalmente. Vanessa pegou o elevador com o coração levemente disparado, era uma mistura de ansiedade com angústia sem fim. Chegando ao andar destinado, bateu na porta, para sua supressa e maior mal humor, quem abriu a porta foi a cuja mulher, que a deixara nesse estado de insegurança. Olhou muito tempo para Morgana, realmente bela.



- Onde está Carlos?



Morgana não respondeu, aproximou-se de Vanessa, que estremeceu com o quase contato. Ficou assim perto dela, levou suas mãos ao cabelo de Vanessa e o acariciou, descendo pelo pescoço, escorregando por seus seios, até ir para as pernas, onde a mão podia passear livremente, já que o vestido tornava as coisas mais fáceis.Vanessa tentou se afastar, mas nunca sentiu tanta excitação, com o toque de alguém. Será que todo esse tempo ela gostava de mulher e não sabia? Morgana, voltou as mão acariciando os lábios dela, e dessa vez o toque foi correspondido. Vanessa afastou as mãos a beijando com violenta fúria, e paixão. As duas se amaram ali mesmo na entrada da porta do apartamento. Vanessa se entregando aos mais diversos toques, descobrindo mais sobre seu corpo e seus desejos. Exaustas, caminharam até o sofá da sala onde deitaram.



- Minha doce criança.



Vanessa olhou para aquela voz tão doce, e ao escutá-la sentiu vontade de beijar Morgana novamente, ela porém afastou os lábios, o encostando no pescoço de Vanessa. Cuidadosamente sugou um pouco de seu sangue, fazendo assim com que as duas entrassem num orgasmo, cheio de explosões de prazeres inimagináveis.As duas então adormeceram abraçadas. Vanessa então esqueceu seus reais motivos de ter ido até ali, estava completamente apaixonada por aquela vampira. E sim, a alimentaria sempre, depois de se amarem

terça-feira, 17 de abril de 2012

Preço alto por Camila Bernardini



"Qual o preço da imortalidade?"


Gabriela se encontrava um pouco embriagada, em uma das mãos uma garrafa de contine e na outra seu cigarro queimando. Estava sentada em uma das muitas praças de sua cidade, olhando as outras pessoas que riam, parecendo não ter problema nenhum. Ela queria se sentir feliz assim, mas fazia seis meses que nao conseguia. Desde que conhecerá Heitor, passava noites em claros. Os dois se encontravam algumas vezes, conversavam sempre. Ele correspondia ao amor dela. O que a tornava infeliz era o fato dele ser casado. Sabia que nunca poderia tê-lo realmente. A angústia no coração de Gabriela era forte, sempre que se pegava imaginando que não era ela que dormia todos os dias ao lado dele. Que talvez nem fosse ela que estivesse com ele nos momentos de sua glória e claro no de suas derrotas, não podia compartilhar com ele detalhes que acontecessem na madruga.Sentia-se só, e não tinha muitas opções de com quem compartilhar esse sentimento, já que Heitor era uma pessoa bem conhecida, e ela não queria por em risco a reputação dele. Reputação sorriu com certa ironia, ao vir esse pensamento em sua cabeça; Será que para o amor também existem regras e etiquetas? Justo ela que não se importava com essas coisas, se via obrigada a esconder seus sentimentos. E sabia que eternamente o amaria calada, e que mesmo quando não estivessem mais nesse mundo, quando o que restará deles forem o pó dessa existência, mesmo assim ninguém saberia que existiu um amor por parte de ambos.



Levantou da praça para caminhar entre ruas escuras e desertas, onde apenas algumas pessoas amantes da noite como ela, se aventuravam. Sentia-se levemente embriaga, era como se flutuasse em vez de caminhar. Queria tanto que seu amor fosse imortal. Havia sim, apenas um jeito para que isso acontecesse, mas teria um risco muito grande apagar. Talvez Heitor nem ficasse feliz em saber que um elo de amor e imortalidade seria feito, talvez ele quisesse, como uma pessoa normal, viver e morrer. Morte, o ciclo inevitável da vida. Existem coisas tão belas e profundas que nunca deveriam morrer. Deveriam ser eternas para que todos conhecessem. Para que todos pudessem, saborear... Mas não, Gabriela tentou afastar esses pensamentos, afinal o amor por si só já era eterno não? È uma energia que sai de dentro de cada ser humano e compactua com o todo.



Para tentar se acalmar um pouco, amenizar a angústia que estava sentindo, resolveu ligar para Heitor. Ficaram alguns minutos conversando, mas quando desligaram cada um de certa maneira se sentiu mais angustiado, melancólico. Gabriela nem lembra como a conversa surgiu, o que sabia era que ele havia dito que odiava a si mesmo por sua idade, e que tinha medo de que a morte os separasse. Enquanto ele falava aquelas palavras tão mórbidas e que feriam o coração dela, algumas lágrimas escorriam por entre a face dela. Foi então que decidiu pagar um preço alto, para eternizar o amor, e eternizar a vida dos dois. Para que tivessem todo o tempo que quisesse, vivessem quantas épocas e eras pudessem, e para que todos conhecessem o amor deles, um amor capaz de mudar, moldar e transformar tudo ao redor.Gabriela chegou a sua casa ansiosa, mesmo com medo de sua idéia decidiu executá-la, não podia por em risco um dia ver o fim da pessoa que mais amava. E acabaria se sentindo menos solitária, tendo com ele um pacto de vida eterna. Seria eternos um para o outro, por isso, ela esperaria o tempo que fosse necessário para tê-lo de uma vez por todas, para ser ela a dormir ao lado dele e passar noites em claro só para vê-lo dormir.



Desceu as escadas onde a levaria para o porão de sua casa, ali guardava todo o seu material mágico e era aonde executava a maioria de seus rituais e feitiços desde que descobriu seus poderes e de que era uma bruxa. Pegou em uma prateleira, seu caldeirão, alguns óleos e essências e seu tão preciso atame. Levou o caldeirão ao pequeno fogão que havia providenciado ali para essas ocasiões. Misturou os ingredientes que pegou, com um pouco de água. Esperou por cinco minutos e desligou do fogo. Foi ao centro do porão, onde já estava desenhado seu eterno pentagrama, acendeu em volta dele algumas velas vermelhas e pretas. Depois seu incensário que foi para o meio do pentagrama, onde queimava um incenso de rosas brancas. Finalmente jogou o conteúdo do caldeirão em volta dos contornos do pentagrama, e sentou-se no chão. Com os olhos fechados, mentalizou duas fogueiras queimando, e no meio dela surgiu Marlon, seu demônio pessoal. Pela primeira vez na vida, ele apareceu sorrindo. Um sorriso diabólico que assustou Gabriela.



- Veja querida, você me invocando em uma sexta-feira a noite, dia que costuma estar por aí se divertindo com seus amigos. O que deseja?






- Quero que torne eu e o Heitor em imortais!



Marlon riu, com sua gargalhada gélida, riso de ironia, que no fundo não exprime nenhuma felicidade. Seu destino era ser escravo de Gabriela, até o dia que ela mesma decidisse o libertar, e claro que não faria isso. Já que vivia invocando-o para pedir pequenos favores, conselhos ou mesmo para conversar. Os humanos eram mesmo insolentes, pensava ele. Não sabia que quanto mais invocavam demônios mais infelizes suas vidas se tornavam? E que mais escravos eles ficavam do poder, ambição e trevas? O pedido que aquela garota, agora fazia, exigiria um preço muito alto.
- Claro minha querida. Para quando vai querer isso?



- Agora mesmo se possível.



- Dessa vez exigirei um preço alto, quero minha liberdade em troca.



Gabriela se espantou no começo com o pedido, mas assim que tivesse seu amado ao seu lado, não precisaria mais daquele diabrete infeliz.



- Tudo bem.



- Então, sente- se no meio do pentagrama e corte um pedaço do seu pulso.



Ela pegou seu atame e fez um leve ferimento em seu braço, onde filetes de sangue escorriam. O demônio ficou olhando extasiado. Materializou-se no porão, e encostou-se a ela, absorvendo o sangue com sua pele, um pouco escamosa e gélida, tão gélida que acabou causando repugnância em Gabriela. Ele conjurou algumas palavras estranhas. Logo todo o porão tremia, e vultos pretos corriam por todos os lados. Risos vindos do inferno, pessoas chorando, barulhos enlouquecedores completavam o cenário horripilante para quem não estivesse acostumado. Marlon então a beijou foi um beijo breve, mas que fez com que o corpo de Gabriela flutuasse alguns centímetros. Ela que estava em posição de lótus, divagar passou a ficar deitada, ainda no ar. Perdeu a consciência por momentos. Nesse tempo seu espírito vagava no mundo da morte e no da vida, as duas fontes a rejeitaram. Assim seu espírito voltou ao corpo, que estremeceu, como se estivesse levando pequenas descargas elétricas entre o terceiro olho, umbigo e coração. Após esses sintomas, seu corpo desceu de volta ao pentagrama. Parecia que tinha corrido uma maratona, tamanho o cansaço que sentia. Abriu seus olhos, encarando o grande espelho que tinha no porão. Parecia estar mais bonita, uma pele mais branca e alva. Nenhuma cor. Estranho, fora esse acontecimento não se sentia diferente. Nem imortal.



- Não se preocupe minha querida, agora você será um anjo das trevas. Um anjo noturno, belo e imortal.



- E Heitor?



- Estou indo agora mesmo cuidar dele, e depois não voltarei. Será minha liberdade.



- Sim...



Marlon então desapareceu diante os olhos dela.






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Heitor estava em seu quarto, na frente do seu computador, escrevendo mais um de seus contos, escrevia um novo conto para retratar seu medo da morte e de deixar Gabriela só. Assustou-se quando a luz de sua luminária apagou, foi tentar acender novamente, mas dessa vez foi o computador que desligou. Ele xingou, nem tinha salvado o que tinha escrito e como se esquecerá de ativar o recuperador automático do programa, provavelmente tinha perdido tudo. Logo voltou a sua concentração na luz, tentou acender a lâmpada do quarto e nada. È, talvez tivesse acabado a energia. Levantou de sua cadeira, foi procurar uma vela em sua cozinha. O corredor que tinha que percorrer para chegar até a cozinha parecia assustador sem iluminação nenhuma. Foi andando em passos lentos, com medo de naquela escuridão, acabar tropeçando em algo.



Foi então que sentiu algo passando por ele. Assustou-se, as passadas de seu coração aceleram forte. Será que alguém estaria assaltando sua casa. Pensou em chamar a policia, mas esquecera o celular no quarto. Voltou então até lá. Tateou com a mão a mesinha onde deixara seu celular. Discou os primeiros números, quando algo muito forte puxou o celular, esse indo parar de encontroa parede.



Heitor nem teve tempo de pensar, um vento frio cortava todo o seu corpo. Não sabia de onde vinha esse vento, já que todas as janelas e portas da casa estavam fechadas. Tentou ainda manter a calma, mas suas pernas visivelmente tremiam. Estava com medo. Foi então que choques elétricos foram recebidos por todo o seu corpo, e quando percebeu seus pés saiam do chão. Estava voando. Como era possível? A luz do seu quarto então se acendeu. Olhou para frente e quase gritou com o que viu. Uma mistura de ser humano com touro. Minotaurto? Mesmo em pânico gargalhou com seu pensamento idiota. Mitologia grega eram apenas mitos. Mas aquilo tudo que estava acontecendo já era surreal por que não?



- Não Heitor... sou pior que isso.



- O que é então?



- Sua amada Gabriela quis tornar-se imortal, mas para isso sempre precisa sacrificar a vida da pessoa que quem escolheu ser imortal mais ama. Por isso vim, para que ela possa desfrutar de sua vida eterna.



- Ela não faria isso comigo.



- Realmente não, mas ela não sabia o preço alto que pagaria.



Marlon caminhou até onde o corpo de Heitor estava, e como esse continuava no ar o tornava vulnerável a qualquer ataque. Ele então tirou o atame que estava escondido dentro de uma bolsa que carregava. Era o atame de Gabriela. Vingança perfeita. Sorriu, antes de terminar o que faria. Com as duas mãos segurando firme o cabo daquela faca, cravou no coração de Heitor. Esse que logo, começou a agonizar de dor. Vendo sua luz de vida ir embora. Nem pode clamar por ela. Nada pode fazer






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Quase no fim da madrugada Gabriela escutou batida em sua porta. Sorriu, achando ser seu amado, que vinha comemorar a nova “vida” dos dois. Ao abrir a porta, porém se assustou ao ver um homem uniformizado, com o emblema da policia.



- Posso ajudar?



- Você esta presa!



- Presa?



- O corpo do seu amante Heitor foi encontrado, e o instrumento que o matou possuía unicamente suas digitais.



- O Heitor esta morto?



Gabriela sem se importar com a reação do policial sentou no chão, ali mesmo, na entrada de sua porta e começou a chorar. Foi só então que se lembrou da verdadeira condição de se tornar uma imortal. Chorou desesperada. O que seria de sua vida sem ele? Viver a eternidade, sabendo que era culpada pela única pessoa que amou. Nada adiantaria agora. Foi então que sorriu. Talvez pudesse trazê-lo de volta, mas teria que esperar exatamente cem anos para isso. O que seria cem anos, para uma vida eterna?O policial algemou-a e conduziu até a viatura. Estranhou a reação daquela mulher, no começo até achou que ela seria mesmo inocente. Mas logo que passou o choro de breve momento, viu nos olhos dela um brilho e nos lábios um sorriso incontido. Decidindo-se assim levá-la. Gabriela ia absorta, apenas pensando nos cem anos que viveria se preparando para encontrar seu amor.

A última sexta por Camila Bernardini



A noite estava fria, uma sexta-feira quase comum, se não fosse o fim de ano que se aproximava e os alunos da escola Espírito Santos não estivessem mais frequentando tanto as aulas. O que deixavam as salas quase vazias, com poucos alunos e professores mal humorados querendo que o expediente acabasse logo para dispensarem os alunos e irem embora. Foi assim que o professor Elias propôs a diretoria que deixassem os alunos saírem mais cedo. Afinal era sexta-feira mesmo, e não havia mais matérias e conteúdos a serem dados. O diretor aceitou e assim todos os alunos puderam ir embora após o intervalo.
Estela e Bianca estavam entediadas, e decidiram não voltar para casa, indo procurar os amigos que não haviam ido para escola e ver o que eles estão fazendo por ai. Se é que estavam fazendo alguma coisa. Foi quando Estela recebeu uma mensagem no seu celular do seu amigo Wesley: “Oi linda, estou com a galera aqui no cemitério. Temos vinho, e trouxemos violão”.
- Vamos ao cemitério Bia.
- Sozinhas?
- Não, o Wesley esta lá com a galera.
- Demorou!
As duas seguiram rumo ao cemitério, indo para a rua de trás do Santo Antônio, onde o portão ficava semiaberto, e era sempre muito fácil de entrar. Já que esse cemitério não tinha guardas, câmeras. Nada que pudessem impedir a entrada de estranhos tarde da noite. Quando as duas passaram pelo portão e olharam aqueles corredores sombrios. Com túmulos quebrados, descuidados um leve arrepio percorreu-lhes o corpo. Não tinha como evitar esse pequeno medo que se instalava. Aquele lugar tinha uma energia espiritual muito forte e às vezes parecia um pouco ruim.
- Vamos encontrar logo o pessoal, não gosto de ficar aqui parada sozinha.
- Nem eu Bia, sempre sinto a sensação de que tem alguém aqui nos observando. Credo.
As meninas se entreolharam, sorriram um pouco para descontrair aquele clima de medo bobo. Afinal não era a primeira vez que iam ao cemitério ao anoitecer. Começaram a caminhar lentamente, observando se viam seus amigos, ou escutavam algum barulho que identificasse em que parte eles se encontravam. Foram então que viram dois vultos subindo em um dos corredores próximos a elas. Muito parecido com seus amigos. Elas então começaram a gritar os chamando. Mas não obtiveram respostas:
- Esses meninos estão surdos? Vamos ter que alcança-los.
Estela e Bia aumentaram os passos e começaram a seguir caminho rumo ao corredor onde avistaram os vultos. Já estavam distantes do portão de saída e nada de encontrá-los. Nem vulto, nem voz. Nada. Apenas a escuridão sombria da noite, túmulos, árvores assustadoras e sombras que pareciam outras coisas. Bia já estava preocupada, não gostava de ficar sozinha naquele lugar. Não que acreditassem em fantasmas, ou coisas assim. Mas pelo portão ficar sempre aberto. Assim como ela e os amigos, outras pessoas poderiam entrar no local.
- Estela liga no celular do Wesley e pergunta onde eles estão.
- Esta bem.
Estela pegou seu celular, e notou que a bateria estava fraca. Rezou para que desse tempo de ligar ao amigo e saber onde ele estava afinal. Discou o número e após alguns toques uma voz sonolenta de quem acabara de acordar atendeu:
- Estelinha, oi!
- Wesley, cadê você?
- Na minha cama, dormindo. Por quê?
Antes que a menina pudesse responder qualquer coisa, a ligação caiu. A bateria havia descarregado totalmente. Ela olhou para Bia assustada e gritou:
- Vamos embora daqui, agora!
- O que foi?
Estela não a respondeu. Apenas segurou seu braço com força e começou a correr, fazendo assim com que a amiga corresse também. Em quanto corriam, não notaram que os vultos se aproximavam delas. Bia estava com um colar e um pingente de crucifixo em seu pescoço, quando sentiu que algo o puxava. Parou de correr para olhar o que acontecia e seu colar arrebentou. Não havia nada em que ele poderia ter se enroscado. Nada. Foi como se alguém o tivesse realmente puxado. Congelou de medo!
- Que, que foi isso?
- Bia não sei o que foi isso, não pare de correr. Vamos embora.
Duas gargalhadas quase ensurdecedoras tomaram conta dos vazios dos corredores. As duas olharam na direção de que vieram e lá estavam dois vultos as observando. Não dava para verem as feições, e, aliás, nem queriam. Voltaram a correr como loucas. Quando chegaram próximas ao portão olharam para trás e novamente não havia nada. Estavam com medo e não queriam mais ficar ali, atravessaram o portão e correram pela rua até estarem bem distantes daquele lugar.
Pararam em uma praça próxima ao colégio onde estudavam. As duas tremiam, nunca sentiram tanto medo. Mas sabiam que agora estavam seguras. E que nada de mal aconteceria. Foi então que novamente ouviram gargalhadas, que fizeram as duas pularem assustadas. Olharam e os vultos estavam lá, zombando delas. Rindo. As duas se abraçaram e fecharam os olhos. Não importa o que acontecesse, ficariam juntos até o fim. Por toda a eternidade.·.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O desejo de uma dança

Sábado à noite. Muitos se arrumando para sair e curtir as mais diversas baladas da vida noturna de São Paulo. Eduardo estava inquieto, necessitava sair. Mas nenhum de seus amigos pareciam dispostos a sair àquela noite. Decidiu ir sozinho então ao Aeroflith. O lugar era legal e poderia encontrar algum conhecido por lá. Ou quem sabe até mesmo fazer alguns novos amigos.
Chegando à casa noturna, tratou logo de correr para o piso superior. Onde ficava a pista de dança. Tudo que ele queria era dançar aquela noite. Porém ao chegar à pista, notou que as pessoas faziam uma roda e quase em transe observavam alguém que dançava dentro da roda. Eduardo com dificuldade começou a ultrapassar as pessoas para ficar mais próximo e ver o que de fato ocorria. Quando conseguiu abrir caminho e chegar viu o que chamava a atenção de todos. No meio daquela roda havia uma mulher dançando. Dançava de forma sublime e harmoniosa. Movimentos em sincronia perfeita. Ao som da música do the smiths. Ela vestia um vestido vermelho. Em cima estilo corpete trançado em barbatanas. A parte de baixo uma saia mais solta, com pontas em renda preta de tule. Por cima do vestido um bolero preto, com as mangas de pontas também em tule. Em seu pescoço uma gargantilha preta com pequenos detalhes em vermelho. Vestia-se como uma verdadeira deusa. Sua roupa, seus movimentos hipnotizavam todos ali.
Eduardo sentiu um imenso desejo de dançar com aquela dama de vermelho, tão bela. Tão atraente. Tão senhora de si. Mas claro não era louco de se aproximar, ainda mais com tantas pessoas em volta também a observando. A desejando. Ele ficou ali apenas apreciando-a dançar. Quanto tempo ficou assim, não sabia dizer. Só conseguiu sair do lugar, quando percebeu que ela suavemente parava os movimentos e terminava sua dança. E não só ele, mas todos pareciam dissipar da hipnose em que se encontraram.
Ela caminhou saindo da pista e indo ao piso de baixo, onde tinha o bar e alguns sofás e pufes para que os convidados da casa pudessem descansar. Sentou-se em um desses sofás e ficou observando as pessoas ao redor. Até que viu Eduardo em um canto próximo a olhando. Olhou para ele e sorriu. Eduardo sentiu um calafrio percorrer a espinha do seu corpo. Era um sorriso quase inumano. Resolveu aproximar-se dela:
-Olá, sou Eduardo
- Agatha!
Única palavra dita por ela. Nem um sorriso convidativo. Nem uma conversa formal. Ele se achou um idiota. Como poderia ter achado que uma mulher como aquela daria confiança á ele. Em devaneios, estremeceu, quando novamente ouviu o som daquela dama:
- Venha.
A seguiu sem questionar. Desceram as escadas do lugar, e começaram a caminhar em silêncio pela rua. Até que Agatha parou em um casarão velho, que mais parecia abandonado e disse:
- Vamos entrar.
- È sua casa?
- Não.
- Invadiremos a casa?
- Sim
- Mas...
- Não gosto de covardes.
Agatha pulou o muro e entrou. Como uma gata. Não parecia estar de salto e com aquele vestido. Eduardo se sentiu envergonhado e humilhado sendo chamado de covarde por uma completa desconhecida. Mas seu desejo por ela era maior do que qualquer coisa. E assim, como um fantoche, pulou o muro atrás dela.
Adentraram a casa, que estava empoeirada, cheia de teias de aranha e parecia muito velha. Com uma estrutura frágil e antiga. Dentro de um pequeno cômodo havia uma cadeira e estranhamente uma corda pendurada em forma de forca amarrada nos estrados do teto.
-Sinistro.
- O que disse?
- Sinistro...
Agatha gargalhou e seus olhos brilharam de tal forma que Eduardo sentiu pavor.
- Linguajar engraçado o seu.
Eduardo enrubesceu. Mas logo já estava atônito novamente. Agatha havia subido em cima da cadeira e pendurado a corda no próprio pescoço.
- O que está fazendo?
-Vou dançar para você. Esse não é o seu desejo?
- Desce daí, você pode se machucar.
- Já disse que não gosto de covardes. Cale á boca e aprecie.
Ela dançava sensualmente. Mesmo sem nenhuma música. Eduardo embora excitado com a dança temia que ela perdesse o equilíbrio e caísse da cadeira, ficando apenas pendurada pela corda. Foi com grande alivio que após alguns minutos que pareceram uma eternidade, ela desceu da cadeira. Mal teve tempo de respirar de conforto por ter acabado a maluquice quando gritou. Nem notara que Agatha se aproximara dele, apenas sentiu a mordida em seu pescoço.
- Ai.
- Que foi donzelinha o machuquei?
- Não!
Agatha ria sem parar, como uma maluca.
- Suba na cadeira Eduardo. Dance para mim. Ah não se esqueça de colocar a corda em seu pescoço.
- Não vou fazer isso
- Claro que vai!
Eduardo então sentiu medo, mas resolveu obedecer aquela maluca. Subiu na cadeira. Porém o medo o paralisou ali. Não conseguia dançar, pegar a corda e por em seu próprio pescoço. Ela então se juntou a ele, subindo na cadeira. E o ajudou gentilmente a por a corda na cadeira. E o beijou. Um beijo intenso e sensual. Eduardo já se esquecia de como se encontrava, e entregava-se completamente aquela estranha. Foi então que ela parou o beijo e cravou seus dentes no pescoço dele. Com tal intensidade. Mas ele estava tão anestesiado pelo beijo que não percebeu o que acontecia. não percebeu que cada gota de seu sangue era sugado lentamente o levando para o abismo da morte. Foi apenas enfraquecendo e quando suas pernas falharam, caiu da cadeira. Ficando apenas pendurando pela corda no pescoço.
Agatha desceu da cadeira, olhou aquele corpo morto, sorriu. E saiu da casa.


quarta-feira, 11 de abril de 2012







Bom gente postei um conto novo e dois antigos. Espero que acompanhem meu blog. Amanhã terei dois contos saindo do forno pra vcs. Por que as idéias voltaram a fervilhar na minha cabeça. E espero que agora eu consiga voltar a escrever e quem sabe um dia realizar meu sonho!

Instinto de um assassino

Finalmente a sexta-feira havia chegado. Embora Lilia, Yasmin e Horjana saíssem todo fim de semana, esse seria diferente. Roeram as unhas para que esse chegasse. Seria a primeira vez que viajariam sozinhas, iam para Campinas acompanhar de perto o show da banda do namorado de Horjana. Claro que inventaram para os pais uma desculpa qualquer. Passaram o dia se arrumando, tentando controlar assim, um pouco tamanha excitação.As três eram assim inseparáveis, na escola os professores as apelidaram de trio parada dura, viviam juntas aprontando, rindo, compartilhando momentos. Logo no primeiro ano em que se conheceram, fizeram um pacto, desses até meio infantil para selarem uma amizade eterna, prometendo umas à outra que nada as separaria. E realmente foi assim durante, os cinco anos de amizade que já tinham.A noite chegou, as três estavam reunidas na casa da Lilia, quando ouviram o som da buzina tocando. Saltaram alegres, correndo para o lado de fora. Ao verem, porém quem buzinava em um primeiro momento se decepcionaram. Era Henry, e não o Mex, o garoto que as levaria para Campinas.Henry ao ver as três garotas com cara de ansiedade e dasapontamento, não deixou escapar um pequeno sorriso em sua face.- Calma meninas, como o carro do Mex ia com todos os equipamentos da banda. Ele pediu que eu as buscasse. Então todas prontas para irem?As meninas animadas novamente subiram no carro do Henry. O início da viagem foi silenciosa, apenas o som do carro tocando o bom e velho heavy metal, que todos apreciavam. O garoto ia tendo flashes de quando conheceu as meninas. A primeira que conheceu foi Horjana, e de imediato ficará encantado com sua beleza. Seus cabelos castanhos claros, um pouco curtos, cacheadinhos; olhos pequenos quase não davam para perceber quando estavam abertos, era magra, mas bem distribuída onde tinha que ser. Logo a garota apresentou suas amigas, tão belas quanto. Lilia era baixinha, um corpo bem definido, cabelos longos, loiros e ondulados, e Yasmin tinha um corpo de modelo de passarela, branquinha, cabelos repicados, lisos e pretos. Realmente um trio de beleza pura, por onde passavam, sempre tinham uma legião de garotos atrás. Elas já haviam ficado com alguns amigos, mas nunca notaram direito Henry, o consideravam apenas um bom amigo. Isso despertava raiva no garoto, que sempre planejou uma forma de se vingar, porém nunca executou nem um plano.No meio do caminho Henry entrou por uma estradinha de terra, que os levaria para uma cabana no meio do mato. Lugar que descobrirá fazia alguns meses. Foi no dia que soube que Horjana ficará noiva de Renato. Sentiu-se traído, a amava tanto, não sabia como ela poderia casar com outro alguém. Claro que a menina nem sonhava com esse sentimento dele por ela, mas mesmo assim ele sentia-se injustiçado. Nesse dia então pegou seu carro, e saiu andando sem rumo, até descobrir esse lugar onde as levaria. As três estranharam ao ver a estradinha de terras, totalmente sem iluminação. Lilia então, a mais desconfiada, já foi logo questionando:- Onde está nos levando?-Um amigo meu irá conosco, passarei na cabana onde ele mora. O lugar pode parecer meio primitivo para vocês, mas ele é uma pessoa legal.Sossegaram diante a resposta do Henry. Quando finalmente chegaram a tal cabana, todos desceram do carro. O lugar era totalmente deserto, sem o mínimo de modernidade, nem luz elétrica existia ali. A fraca luz que existia, era um pequeno lampião pendurado na porta de entrada.- Que horror! Estou me sentindo em um filme do Zé do Caixão- disse Yasmin.As meninas riram. Henry bateu na porta, que logo foi aberta. Viram então um homem que aparentava ter uns quarenta anos, cabelos grisalhos, uma barba rala no rosto. Suas vestimentas, uma cala social preta, e camisa preta, com uma gravata vermelha. Parecia mesmo um ser maligno de um filme de terror.- Então podemos ir?- Calma Lilia, me deixe apresentar... esse daqui é Hilbert.- Oi meninas, quero convidá-las a entrarem em minha humilde casa.- Seria um prazer, mais vamos nos atrasar para o show do meu namorado!- Não iremos não, ainda ta cedo Horjana. Vamos entrar um pouco.As meninas sem alternativas entraram na casa então do amigo de Henry. A decoração da casa completava bem o cenário trash que Yasmin havia comentado. Espelhos grandes por todos os lados, com teias de aranha, e alguns morcegos de plásticos pendurados pelo teto. A luz de dentro, era apenas das chamas das várias velas espalhadas pela casa toda.Assim que as meninas já estavam do lado de dentro, sentiram calafrios. O lugar era estranho, tão estranho, assustador. A vontade que tinham era de saírem correndo, sem nem olhar para trás.Henry e Hilbert pediram licença um minuto, e entraram no interior do próximo cômodo da casa. Elas estavam tão incomodadas naquele lugar que nem tiveram coragem de sentar no sofá de camurça preta que estava ali, ou talvez nem tivesse reparado.- Quero logo ir embora daqui- sussurrou baixinho Lilia.Antes que as outras pudessem responder qualquer coisa, as velas se apagaram. A escuridão ficou total, não conseguiam enxergar um palmo adiante. Em um impulso as três gritaram ao mesmo tempo e se deram as mãos. Zunidos estranhos começaram a circular, como se fossem pequenos gritos abafados.- Mas o que é isso? Yasmin, Lilia, vamos dar um jeito de sair daqui.-Não, fiquem aqui. Eu vou até o outro cômodo procurar Henry e pedir para darmos o fora desse lugar assombrado.Yasmin então soltou a mão das amigas, e mesmo no escuro tentava caminhar. Ia andando a passos lentos, com a mão na frente para evitar trombar em alguma coisa. Quando finalmente chegou ao seu destino, sentiu que alguém se aproximava dela.- Henry?Ninguém respondeu apenas a pegou pelos cabelos, a puxando mais para perto. Yasmin ia gritar, porém não teve tempo, uma faca já fazia um enorme corte em seu pescoço, e seu corpo morto tombava ao chão. Assim que ela fora morta, no cômodo da casa aonde se encontrava as outras amigas, as luzes das velas, misteriosamente se acenderam novamente. Uma olhou para a outra.- O que será que está acontecendo?- Deve ser alguma brincadeira do Henry para nos assustar Li, vamos procurar Yasmin esair daqui.As duas então seguiram o mesmo caminho que a pouco a amiga tinha feito. Lilia então tropeçou, só assim olhando para o chão, e foi então que gritou. Um grito que ecoou por todas as paredes daquele lugar. Grito de dor, medo e desespero. Com o grito Horjana também olhou, e embora tenha ficado em silêncio sentiu a mesma agonia aflorar sobre sua pele. Ali caído ao chão, o corpo de Yasmin ensangüentado.- Meu Deus! O que é isso Horjana?- Esse amigo do Henry, deve ser um psicopata. Deve tê-lo matado também. Não podemos fazer mais nada pela Yasmin, vamos embora daqui.Aas palavras de Horjana, foram baixas quase inaudíveis, já que ela tentava sufocar seu próprio choro. As duas então caminharam de volta para onde estavam para abrir a porta e saírem dali. Uma caminhava atrás da outra. Lilia que ia atrás, foi surpreendida por alguém que a agarrou, tampando sua boca, impedindo assim que gritasse. Assim a única que continuou caminhando rumo à saída, foi Horjana.Lilia foi amarrada em uma cadeira, velha, quase caindo aos pedaços. Na sua frente estava Henry e Hilbert a olhando. Sua boca continuava amordaçada, assim não podendo emitir um único som, ou perguntar o que estava acontecendo. Viu quando Henry foi até o fogão, onde pegou a panela de água fervente. Aproximou-se mais de Lilia e antes do seu ato final, passou sua mão por entre as pernas dela que usava uma mini-saia vermelha. Sorriu. Jogou o conteúdo da panela pelo ouvido da menina e depois se divertiu em vê-la se contorcer de dor. Só daí pegou a faca que usou para matar a outra, e também fez um corte em seu pescoço. Mas uma diante dele, sem vida, sem brilho e sem aquela maldita beleza que o enlouquecerá.Horjana ao chegar a o outro cômodo e ver que sua amiga não estava com ela pensou em voltar e procurá-la, mas algo dizia que já era tarde de mais. O melhor a fazer seria fugir dali, antes que não sobrevivesse também. Abriu a porta, por onde entrará no inferno, e perderá suas amigas e começou a correr. Tão desesperada que estava nem pensou em pegar o carro que continuava estacionado ali para fugir. Corria por entre a estrada de terra, até ficar sem fôlego, sendo obrigada a parar e se recompor. Assim estava, quando viu uma luz de lanterna se aproximar. Ia correr, mas logo reconheceu as feições. Era Henry. Correu até ele e o abraço desesperada.- Pensei que tivesse morto!Ele então se soltou dela e sorriu. Horjana percebeu o sorriso e o brilho estranho no olhar, virou as costas para correr. Mas ele a segurou firmemente. Segurou o rosto da garota com as mãos e forçou um beijo, enquanto com a outra mão rasgava o vestido que ela usava. Ela gritava desesperada para que ele a soltasse.Henry então a jogou no chão, extasiado com a cena que via. Horjana sempre tão bela, sempre tão cheia de pose, jogada ao chão, violentada, com a roupa rasgada, implorando pela vida. Do casaco de sua blusa tirou mais uma vez sua faca e lentamente foi a cortando. Primeiro a barriga, depois os seios. Ela tremia a dor não era tão intensa, mas o medo que sentia era tão forte e intenso que não conseguia deixar de transparecer.- Minha bela, por que aceitou causar com o idiota do seu namorado? A morte de suas amigas, como a sua, será exclusivamente culpa sua!- Seu louco!Ele fingindo-se de ofendido, pressionou sua mão por entre as pernas da garota, enquanto lambia-lhe os ferimentos já feitos.-Sou louco por você anjo.Com a faca na mão, cortou o pescoço dela, a largando sem vida, ali mesmo na estradinha e caminhando de volta em direção ao carro. Hilbert o estava esperando, sentado no capô. O homem quando o viu apenas sorriu, e entrou de volta em sua cabana. Henry então abriu a porta mala de seu carro, jogando o corpo de Mex ali no chão e em seguida entrado no carro e dando partida, ido embora para sua casa

Apenas me chame de mestre

Veronica olhou-se no espelho. O tempo passava, o temor de envelhecer continuava. Não que estivesse feia e velha. Tinha vinte e três anos, mas sentia saudade da sua adolescência de tudo que tinha vivido nela. Seu temor era que os anos continuassem passando. Sentia que o tempo era curto de mais para que pudesse viver e aproveitar tudo que queria. Perdida em seus devaneios, quase não ouviu seu celular tocando. Olhou para o visor, era sua amiga Julia.- Alô- E ai vamos hoje para o Dm?Dm era uma balada, que as duas frequentavam quase todos os fins de semana, rolava um som dos anos 80. A maioria dos frequentadores eram góticos e alguns outros malucos que se achavam vampiros. Verônica achava engraçado essas pessoas. Pensava qualquer dia vou dizer a um deles: “È vampiro faz crescer os dentes, vira morcego e sai voando”. Mas gostava do lugar e disse a sua amiga:- Claro, me encontra às onze horas em frente à estação Republica.No horário combinado as duas estavam na frente da estação indo à balada. Um homem de, sobretudo, delineador nos olhos e uma palidez tão sombria que só podia ser uma maquiagem chegaram perto delas e quase em um sussurro disse:- Posso acompanhá-las?As duas se entre olharam, sorriram e disseram sim, Veronica então olhou para ele, olhou no fundo de seus olhos. Tinha uma cor bonita. Eram azuis e ficava legal com o contraste preto do delineador. Então ela se sentiu presa dentro daquele olhar, uma força magnética, hipnótica. Jurou ouvir a voz dele dizendo “Logo não temerás, mas a velhice”. Mas claro só podia ser o efeito das tequilas que tomou em outro bar, antes de encontrar Julia. Afinal estava encarando o homem, e ele não havia mexido os lábios. E ninguém além dela conhecia seu temor de envelhecer. Com muito esforço desviou o olhar e disse:- O que ainda estamos fazendo parados aqui?Em tão todos seguiram até a entrada da balada. Tudo corria norma, as mesmas pessoas de sempre. Julia encontrou com o carinha que ficava há um tempo e logo desapareceu com ele. Verônica comprou uma dose de vodka e foi para a pista de dança. Adorava dançar, era como se o mundo todo desaparecesse. Como se só estivesse ela e a música ali. Nada mais! Fechava os olhos e simplesmente sentia a música, não importava as pessoas ao redor. Não importava nada. Só queria sentir seu corpo em movimento, em sincronia com o som que tocava. E nesse transe da dança nem percebeu quando ele se aproximou. O homem que as acompanhou da estação para a balada estava parado a olhando dançar. Percebendo que ela nunca sairia daquele transe, tocou sua mão. Só assim ela abriu os olhos. Ao ver quem era sorriu e disse:- Nós nem nos apresentamos, não sei seu nome.- Não tenho nome, pode me chamar do que quiser.- Como assim não tem nome?O som estava alto novamente, e a conversa ficou pelo ar. Veronica dançava, só que agora inquieta com aqueles olhos azuis que não paravam de encará-la. A presença daquele homem sem nome era forte, tinha uma energia estranha. De repente sentiu que ele pegava em suas mãos. Começou a dançar com ela. A pele dele era fria, fria de mais para uma época de calor. Sentiu medo daquela pele gélida, vontade de correr. Mas algo a prendia ali. Ele então a beijou, um beijo intenso, prometendo outros toques intensos. A mão dele percorria todo seu corpo, até que a colocou por baixo da saia dela. Na mesma hora ela se afastou. Olhou para ele e disse:- O que é isso? Mas quem é você afinal?- Vou te dar o que sempre desejou!- Nunca desejei ser agarrada em uma balada...- Isso só faz parte do processo, quanto mais prazer sentir menos doloroso será?- Você deve ser outro desses malucos...Ele não respondeu a beijou com força, jogando seu corpo contra parede. Verônica tentou resistir. Mas a verdade é que estava sentindo prazer naquilo. O beijo parou, ele desceu para seu pescoço. Alguns beijos e ela disse:- Me morda!- Tem certeza?- SimEle então a mordeu. Verônica sentir uma dor prazerosa nunca sentida antes. Podia jurar que estava gozando apenas com aquela mordida. Foi sentindo-se fraca, seu corpo amolecendo e caiu. O homem estranho e sem nome a segurou pelos braços, afastando ela da pista para que as outras pessoas não percebessem. Foi então que rasgou sua camisa, com sua própria unha fez um corte em seu peito. Algumas gotas de sangue escorriam lentamente do peito a barriga. Colocou então a garota por sobre seu peito. Na mesma hora que sentiu aquele cheirou doce, Verônica despertou lambendo o peito dele. Quando as primeiras gotas de sangue mergulharam por sua garganta a fome era veroz, desceu lambendo até as gotas que escorriam para a barriga.Algumas pessoas ao redor começaram a olhar, estava escuro não perceberam o sangue. Mas estavam incomodada com a cena. Quando finalmente Veronica saciou sua fome, voltou a beijar o homem estranho com tanta luxúria e desejo que pensou fosse explodir com as sensações.- Me possua MestreEla achou estranho chamá-lo de Mestre, mas naquele momento seu único desejo era ser possuída por aquele homem estranho. Não conseguia pensar com sanidade. Afinal que diabos acontecia com ela?Ele levantou a saia dela, e a penetrou. Depois de alguns minutos, Verônica gemia e seu corpo tremia levemente. Tinha tido um orgasmo, como nunca tivera um.- Agora você é imortal.- Do que esta falando?- A transformei em uma criatura da noite como eu.- Vampiros?- Pode chamar de vampiro se assim preferir. Nunca mais envelhecerá! Terá todo o tempo do mundo para desfrutar de todos os seus desejos.Veronica ficou assustada. Mas sentia uma ponta de prazer. Achou que ele mentia, foi então que olhou para a camisa rasgada dele, e os restos de sinais de sangue. Realmente não podia duvidar do que via. Seria um monstro? Não seria muito mais. A partir dali ela mudaria sua vida. Viveria, não envelheceria. Sorriu ao homem e disse:- Posso saber seu nome?- Me chame apenas de mestre!

Cuidado com o que deseja

Jonatas estava parado como de costume na praça que tinha ao lado da estação da Lapa. Olhou no relógio, quase onze horas da noite. Sabia que logo ela apareceria. E não deu outra quando percebeu vários olhares na mesma direção já sabia que ela passava. Todas as noites, sempre no mesmo horário caminhava por entre aquelas ruas imundas da Lapa, uma mulher tão diferente. De uma energia tão magnífica, atraia olhares e atenções de todos ao redor. Olhares de homens que a desejavam e de mulheres que a invejavam.
Hoje ela estava linda como todas as noites, um espartilho preto, com rendas em vermelho. Uma saia longa preta, com tule. No pescoço uma singela pedra vermelha em forma de gota. Cabelos soltos ao vento, da altura dos ombros, ondulados. Olhos firmes e fixos para frente. Era sempre assim que aquela mulher andava. Não olhava para baixo, não olhava para os lados. Muitos confundiam isso com arrogância, mas Jonatas sabia que não. Era apenas segurança dos seus passos. Segurança de que não precisava de nada. Sabia que era bela e carregava consigo um olhar tão intrigante e misterioso que muitos dariam a vida para entrar no mundo dela. Saber quem era de onde vinha, para onde ia.
Como sempre a bela mulher passou, com rosto sereno, sem expressão. Sem sorriso, sem olhares. Era como se andasse, ou melhor, flutuasse em uma passarela. Jonatas entristecido com a presença dela que já sumia nas ruas escuras teve uma ideia. Segui-la. Saber um pouco mais daquela mulher misteriosa que mexia com seus instintos. Ele ficava ali todas as noites até o horário dela passar. Mas não se contentava mais com isso, queria sentir seu perfume por mais tempo, saber seu nome e se não fosse ousadia saber o que a fazia se sentir tão segura além de toda aquela beleza inatingível.
Foi então que começo a caminhar depressa, para ficar a poucos passos de distância dela. Seu coração tremia. E foi assim uma longa caminhada que nem percebeu que há muito tinha saído daquela parte feia do bairro da Lapa e se encontrava agora na parte arborizada, com ricas casas. A sua dama caminha, passo lentos e estranhamente não sentia medo de andar só aquela hora sozinha na rua? Jonas estremeceu, pensando na sua dama todos os dias fazendo esse caminho só. Estava tão perdido em seus devaneios que não percebeu que ela havia parado em um casarão e o olhava. O fitava demoradamente. Então naquele rosto belo, porém gélido e sem expressão surgiu um sorriso.
A dama misteriosa entrou no casarão e Jonatas com tristeza percebeu que mais uma noite chegava ao fim para ele e que ansiaria com outra noite, para vê-la passar. Com um sentimento de tristeza ia virando as costas quando a garagem da casa foi aberta e um carro vermelho sai de dentro. Olhou para o carro e a mulher que povoava e atordoava seus sonhos e desejos estava dentro dele. Ela abriu a janela e disse:
-Venha, vamos dar uma volta? Logo é madrugada. Odeio madrugadas solitárias.
Jonatas correu para dentro do carro, esqueceu que não a conhecia. Esqueceu que estava entrando em um mundo completamente desconhecido para ele. Suava frio, tremia. Não tinha coragem de olhar para o rosto daquela mulher.
- Ei, companhias só são boas quando de fato sentimos que elas estão presentes. Onde estão seus pensamentos?
- Desculpa senhora, é que estar no seu carro é algo imprevisível.
- Senhora? Não me faça rir! Prazer meu nome é Agatha. Se esse foi o seu desejo por que esta com medo agora?
Aquela mulher realmente tinha algo mágico. Mas como sabia que ele alimentava desejos de estar com ela um pouco mais do que apenas vê-la passar todas as noites por breves momentos na rua.
- Desejo?
- Sim, o chamei para entrar no carro e você entrou! Foi seu desejo entrar não?
- Ah
Agatha gargalhou e continuou dirigindo. No som do carro um som tocava alguma banda alemã provavelmente. Ela acelerou o carro, correndo em alta velocidade. Jonatas sentiu arrepios e lembrou-se de por o sinto de segurança. A mesma ria ainda mais. Olhou para ele divertida e disse:
- Esta com medo?
- Não senhora!
- Senhora? Você deve estar mesmo com muito medo.
Rodaram mais alguns quilômetros, quando Jonatas percebeu que estava em um camping. Achou estranho e vai ver que calculou que tivera menos tempo dentro do carro. Por que não havia nenhum camping perto da Lapa. E aquele lugar cheio de chalés, árvores e montanhas nem de perto estava próximo. Calafrio de novo, mas sabia que deveria parar de pensar bobagens. Estava tão atordoado com a presença dela que deveria não ter percebido o tempo que levaram.
- Saia do carro!
- O que? Que? Mas por que senhora?
- Quero que saia do carro e fique na frente dele.
- Não.
- Saia não seja um covarde. Odeio covardes.
Jonatas tremia tanto, mas obedeceu. Que raio por que obedecia uma mulher? Ela era linda sim, mas ele era muito mais forte e podia fazer o que bem entendesse. Mas Agatha não era qualquer mulher. Ele então foi até a frente do carro, suas pernas tremiam. Ficou ali paralisado. Percebeu que a música que tocava agora no carro estava bem alta e essa ele conhecia muito bem. Route 66 do depeche mode. Engoliu seco. Fechou os olhos e rezou baixinho.
Agatha então acelerou o carro e passou por cima dele. Sem dó, sem piedade. Sem explicação. Apenas o atropelou e gargalhava como uma desvairada. Depois deu ré e passou novamente. Fez isso por algumas vezes até que cansou, encostou o carro e desceu. Jonatas estava estirado no chão, com a respiração entrecortada. Ela o olhou. Seus olhos brilharam um ar sádico e terrível. Ela então se aproximou dele e o beijou. Um beijo gélido, como se fosse a própria morte que o beijasse. Sussurrou baixo em seu ouvido:
- Cuidado com o que deseja você pode ficar eternamente preso aos seus desejos.
E com um movimento mais brusco mordeu sua garganta. Sim agora ele sabia. Era seu sangue que ela queria. Não bastava humilhá-lo. Ia terminar com tudo ali. Jonatas sentiu sua vida de esvaindo. Fechou os olhos então e dormiu o sono dos mortos. Agatha terminou de sugar todo aquele sangue, levantou-se, limpou sua boca. Olhou para aquele corpo morto. Riu. Caminhou até o carro e foi embora.